LAZER É REMÉDIO? O SEGREDO CONTRA O ENVELHECIMENTO COGNITIVO
- mktclinicadoolho
- há 6 dias
- 4 min de leitura
A frase "Use-o ou perca-o" ("Use it or lose it") é um ditado popular que ganha cada vez mais peso no universo da saúde cerebral. Vivemos mais, mas queremos viver melhor. O envelhecimento anormal da cognição (o que inclui problemas de memória, raciocínio e atenção) é um desafio crescente de saúde pública.
Muitas vezes, a solução mais poderosa para este problema pode não estar em um novo medicamento, mas sim em algo que fazemos para nos divertir: nossas atividades de lazer.
Pesquisadores têm investigado há anos se o engajamento em atividades prazerosas—aquelas que fazemos fora do trabalho ou das tarefas diárias—realmente protege nosso cérebro. Como os resultados anteriores eram inconsistentes, uma equipe de cientistas decidiu compilar o máximo de dados possível para dar uma resposta definitiva.
O que foi estudado: uma análise de dados reais
Para entender o efeito das atividades de lazer, foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise.
O que isso significa? É um estudo de alto nível que não analisa apenas um experimento isolado, mas sim combina e sintetiza os resultados de múltiplos estudos longitudinais (estudos que acompanham as pessoas por longos períodos, de 1 a 16 anos). Essa abordagem fornece evidências mais robustas sobre como as atividades de lazer se associam ao desenvolvimento do envelhecimento cognitivo em condições de "mundo real".
Os pesquisadores analisaram dados publicados entre janeiro de 2012 e janeiro de 2022, focando em idosos (65 anos ou mais) que não apresentavam problemas cognitivos no início dos estudos. As atividades de lazer foram classificadas em três grandes grupos: físicas (como caminhar, dançar ou ioga), cognitivas (como ler e usar o computador) e sociais(como viajar e ir a clubes).
O resultado principal: 23% menos risco de problemas cognitivos
A conclusão geral da meta-análise é clara: as atividades de lazer têm um efeito protetor positivo na função cognitiva em idosos.
Ao agrupar todos os estudos, os pesquisadores calcularam o Risco Relativo (RR). O RR agrupado foi de 0.77 (com alta confiança estatística). Em termos simples, isso sugere que o engajamento em atividades de lazer está associado a uma redução de cerca de 23% no risco de desenvolver envelhecimento cognitivo anormal.
Quem mais se beneficia? O poder da atividade física
O estudo não parou na conclusão geral; ele comparou o impacto das atividades em diferentes estágios do declínio cognitivo, como Demência, Comprometimento Cognitivo e Declínio Cognitivo.
Um achado particularmente otimista foi que o efeito protetor das atividades de lazer é mais proeminente em atrasar o Comprometimento Cognitivo.
O que é Comprometimento Cognitivo (CC)? É uma condição onde o indivíduo já apresenta dificuldades de memória ou raciocínio, mas a gravidade ainda não é suficiente para ser classificada como demência. É um estágio crucial onde a intervenção preventiva é mais eficaz.
Neste estágio, as atividades físicas se destacaram como as grandes campeãs de proteção. As análises de subgrupo mostraram que as atividades físicas (como caminhada, natação, Tai Chi, ioga) relataram um RR de 0.55. Isso indica uma redução potencial de 45% no risco de desenvolver Comprometimento Cognitivo.
Embora as atividades cognitivas e sociais também sejam benéficas, a atividade física se mostrou a mais poderosa na prevenção deste estágio intermediário.
Personalizando a prevenção: gênero e região
Os pesquisadores encontraram diferenças intrigantes nos resultados, sugerindo que as recomendações devem ser individualizadas.
Gênero: estudos com uma porcentagem menor de participantes femininas (ou seja, mais homens) mostraram um efeito protetor significativamente maior. Isso pode indicar que o lazer exerce um efeito maior na função cognitiva em homens do que em mulheres.
Localização: os estudos realizados em países europeus e americanos tenderam a ter um risco menor de declínio cognitivo (RR significativamente mais baixo) em comparação com os estudos realizados em países asiáticos. Isso pode estar relacionado à frequência, tipo de atividade e status socioeconômico das populações.
Essas variações mostram que os profissionais de saúde devem considerar as diferenças de gênero e o contexto cultural ao desenvolver programas de intervenção.
A conexão com a saúde ocular
Embora este estudo se concentre na cognição, seus achados têm implicações indiretas e poderosas para a saúde ocular. A visão é um processo complexo que depende da integridade do Sistema Nervoso Central (SNC) e da nossa capacidade de interpretar o mundo.
Manter a função cognitiva e cerebral saudável, como sugerido pelo estudo através das atividades de lazer, significa manter as vias neurais mais resistentes. Uma melhor saúde cognitiva contribui para:
Acompanhamento e adesão ao tratamento: pacientes com funções cognitivas preservadas têm maior facilidade em seguir prescrições médicas e rotinas de tratamento para doenças oculares crônicas (como glaucoma ou degeneração macular).
Melhor qualidade de vida: um cérebro ativo e saudável garante que o idoso possa continuar engajado em atividades de lazer (leitura, socialização, esportes), maximizando o prazer visual e a qualidade de vida.
O lazer não apenas protege contra o declínio cognitivo, mas também sustenta a capacidade de desfrutar plenamente da visão que cuidamos com tanto carinho.
Invista no seu lazer e na sua visão
Diante das evidências robustas desta meta-análise, a recomendação é clara: idosos devem se engajar em mais atividades de lazer para proteger sua função cognitiva. Dê prioridade à atividade física, que provou ser uma barreira significativa contra o Comprometimento Cognitivo.
A prevenção do declínio cerebral e a proteção da sua visão andam lado a lado. Cuidar do seu corpo e da sua mente é o melhor seguro para os seus olhos!
Mantenha seu acompanhamento oftalmológico em dia e utilize o lazer como parte essencial do seu plano de saúde.
A visão é o sentido mais importante do ser humano!
DOI: 10.3389/fpsyg.2022.1080740
Cremeb: 13.076
RQE: 4984

